quarta-feira, 4 de agosto de 2010
ArgumentAÇÃO
Uma saudade
Que não consigo compensar
O tempo que passa
Sempre impossível resgatar
Mas pelo horizonte
Meus olhos podem encontrar
Há algo mais
Tenho coragem de buscar?
sexta-feira, 25 de setembro de 2009
Vida Miscelânea
E mesmo agora com tudo isso em meu coração
Prefiro uma canção, à debates intermináveis
À gritos inaudíveis, à lamúrias invisíveis
Prefiro os versos que logo se formam.
Prefiro, o perfeito do poema que
Bem descreve a imperfeita vida que levo
Ah mas se tropecei em pedras
Se meu coração se entregou como presente
Se não me quiseras e se fizeste ausente
O que poderei fazer se não cantar
Que seja a canção dos sofredores
Dos perdidos amores
Das indignações momentâneas
De vida miscelânea
E que a voz não me falte para cantar
E que o ritimo possa me embalar
E aliviar este coração descontente
Que só sente, mas que nos versos não mente
Tracy Gomes Costa
domingo, 2 de agosto de 2009
A Flor e a Náusea - Carlos Drummond de Andrade
Preso à minha classe e a algumas roupas,
vou de branco pela rua cizenta.
Melancolias, mercadorias, espreitam-me.
Devo seguir até o enjôo?
Posso, sem armas, revoltar-me?
Olhos sujos no relógio da torre:
Não, o tempo não chegou de completa justiça.
O tempo é ainda de fezes, maus poemas, alucinações e espera.
O tempo pobre, o poeta pobre
fundem-se no mesmo impasse.
Em vão me tento explicar, os muros são surdos.
Sob a pele das palavras há cifras e códigos.
O sol consola os doentes e não os renova.
As coisas. Que triste são as coisas, consideradas em ênfase.
Vomitar este tédio sobre a cidade.
Quarenta anos e nenhum problema
resolvido, sequer colocado.
Nenhuma carta escrita nem recebida.
Todos os homens voltam pra casa.
Estão menos livres mas levam jornais
e soletram o mundo, sabendo que o perdem.
Crimes da terra, como perdoá-los?
Tomei parte em muitos, outros escondi.
Alguns achei belos, foram publicados.
Crimes suaves, que ajudam a viver.
Ração diária de erro, distribuída em casa.
Os ferozes padeiros do mal.
Os ferozes leiteiros do mal.
Pôr fogo em tudo, inclusive em mim.
Ao menino de 1918 chamavam anarquista.
Porém meu ódio é o melhor de mim.
Com ele me salvo
e dou a poucos uma esperança mínima.
Uma flor nasceu na rua!
Passem de longe, bondes, ônibus, rio de aço do tráfego.
Uma flor ainda desbotada
ilude a polícia, rompe o asfalto.
Façam completo silêncio, paralisem os negócios,
garanto que uma flor nasceu.
Sua cor não se percebe.
Suas pétalas não se abrem.
Seu nome não está nos livros.
É feia. Mas é realmente uma flor.
Sento-me no chão da capital do país às cinco horas da tarde
e lentamente passo a mão nessa forma insegura.
Do lado das montanhas, nuvens macias avolumam-se.
Pequenos pontos brancos movem-se no mar, galinhas em pânico.
É feia. Mas é uma flor. Furou o asfalto, o tédio, o nojo e o ódio
terça-feira, 12 de maio de 2009
Insanidade
Insanidade seria a definição correta?
Mendigando, rastejando. Até onde?
Até quando colher pedaços do próprio coração?
Ilusão, ou sofrimento desejado, premeditado?
Pedras pelo chão
Vozes dizem: não
Pedaços de coração
Fabrica mais ilusão
E tudo parece novo na manhã ensolarada
E tudo termina igual: na janela abandonada
Nada de atitude
Nada de nada.
Olhar faminto e entorpecido
Passos raros no caminho perdido
Esperanças vãs lutam no peito adormecido
Insanidade? Quero saber.
Ilusão de mais faz perder
A realidade magnífica que é viver
Regras não segue
Mas regras a rege.
Perdida entre sonhos
E a vida que se impôs.
Diz que tudo tem seu tempo
E prefere deixar para depois ...
Nos cabelos o vento
No coração o sangue vivo
De alguém que ainda não aprendeu a viver.
De alguém que na vida preferiu morrer.
Tracy Gomes Costa
quinta-feira, 30 de abril de 2009
De Volta
Ahh quanto tempo corri deste lugar
Quanto tempo aqui não soube me expressar
E hoje em versos sinceros e instantâneos
Volto para a casa devagar...
No bolso esquerdo carrego a despretensão
No direito a esperança de mais uma canção
No coração o que sinto e quero libertar
Em minha mão a chave, o verso:
Vamos você também pode entrar!
Tracy Gomes Costa
quarta-feira, 26 de novembro de 2008
Eu sinto
De repente
Você sente
Que todos mentem
Que eles plantam sementes infecundas
Fabricam pessoas imundas
Com destinos traçados
Dias e sorte marcados.
Mas eles? São belos disfarçados
E o que você sente não interessa
Eles não têm pressa
Mas, faça tudo que lhe peça
Depois de dias mal gastos
Verei que os sentimentos são passado
Que nada terá adiantado
Que meu tempo se perdeu e que estou derrotado
Não, não irão me seduzir, não tão fácil assim
Não irei deixar meu sentimento partir
Continuarei a sentir até o fim
Tracy Gomes Costa
segunda-feira, 17 de novembro de 2008
Lágrimas Ocultas (Florbela Espanca)
Se me ponho a cismar em outras eras
Em que rí e cantei, em que era querida,
Parece-me que foi outras esferas,
Parece-me que foi numa outra vida...
E a minha triste boca dolorida
Que dantes tinha o rir das primaveras,
Esbate as linhas graves e severas
E cai num abandono de esquecida!
E fico, pensativa, olhando o vago...
Toma a brandura plácida dum lago
O meu rosto de monja de marfim...
E as lágrimas que choro, branca e calma,
Ninguém as vê brotar dentro da alma!
Ninguém as vê cair dentro de mim
Em que rí e cantei, em que era querida,
Parece-me que foi outras esferas,
Parece-me que foi numa outra vida...
E a minha triste boca dolorida
Que dantes tinha o rir das primaveras,
Esbate as linhas graves e severas
E cai num abandono de esquecida!
E fico, pensativa, olhando o vago...
Toma a brandura plácida dum lago
O meu rosto de monja de marfim...
E as lágrimas que choro, branca e calma,
Ninguém as vê brotar dentro da alma!
Ninguém as vê cair dentro de mim
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