sexta-feira, 25 de setembro de 2009

Vida Miscelânea




















E mesmo agora com tudo isso em meu coração
Prefiro uma canção, à debates intermináveis
À gritos inaudíveis, à lamúrias invisíveis

Prefiro os versos que logo se formam.
Prefiro, o perfeito do poema que
Bem descreve a imperfeita vida que levo

Ah mas se tropecei em pedras
Se meu coração se entregou como presente
Se não me quiseras e se fizeste ausente
O que poderei fazer se não cantar

Que seja a canção dos sofredores
Dos perdidos amores
Das indignações momentâneas
De vida miscelânea

E que a voz não me falte para cantar
E que o ritimo possa me embalar
E aliviar este coração descontente
Que só sente, mas que nos versos não mente

Tracy Gomes Costa

domingo, 2 de agosto de 2009

A Flor e a Náusea - Carlos Drummond de Andrade


Preso à minha classe e a algumas roupas,
vou de branco pela rua cizenta.
Melancolias, mercadorias, espreitam-me.
Devo seguir até o enjôo?
Posso, sem armas, revoltar-me?

Olhos sujos no relógio da torre:
Não, o tempo não chegou de completa justiça.
O tempo é ainda de fezes, maus poemas, alucinações e espera.
O tempo pobre, o poeta pobre
fundem-se no mesmo impasse.

Em vão me tento explicar, os muros são surdos.
Sob a pele das palavras há cifras e códigos.
O sol consola os doentes e não os renova.
As coisas. Que triste são as coisas, consideradas em ênfase.

Vomitar este tédio sobre a cidade.
Quarenta anos e nenhum problema
resolvido, sequer colocado.
Nenhuma carta escrita nem recebida.
Todos os homens voltam pra casa.
Estão menos livres mas levam jornais
e soletram o mundo, sabendo que o perdem.

Crimes da terra, como perdoá-los?
Tomei parte em muitos, outros escondi.
Alguns achei belos, foram publicados.
Crimes suaves, que ajudam a viver.
Ração diária de erro, distribuída em casa.
Os ferozes padeiros do mal.
Os ferozes leiteiros do mal.

Pôr fogo em tudo, inclusive em mim.
Ao menino de 1918 chamavam anarquista.
Porém meu ódio é o melhor de mim.
Com ele me salvo
e dou a poucos uma esperança mínima.

Uma flor nasceu na rua!
Passem de longe, bondes, ônibus, rio de aço do tráfego.
Uma flor ainda desbotada
ilude a polícia, rompe o asfalto.
Façam completo silêncio, paralisem os negócios,
garanto que uma flor nasceu.

Sua cor não se percebe.
Suas pétalas não se abrem.
Seu nome não está nos livros.
É feia. Mas é realmente uma flor.

Sento-me no chão da capital do país às cinco horas da tarde
e lentamente passo a mão nessa forma insegura.
Do lado das montanhas, nuvens macias avolumam-se.
Pequenos pontos brancos movem-se no mar, galinhas em pânico.
É feia. Mas é uma flor. Furou o asfalto, o tédio, o nojo e o ódio

terça-feira, 12 de maio de 2009

Insanidade















Insanidade seria a definição correta?
Mendigando, rastejando. Até onde?
Até quando colher pedaços do próprio coração?
Ilusão, ou sofrimento desejado, premeditado?

Pedras pelo chão
Vozes dizem: não
Pedaços de coração
Fabrica mais ilusão

E tudo parece novo na manhã ensolarada
E tudo termina igual: na janela abandonada
Nada de atitude
Nada de nada.

Olhar faminto e entorpecido
Passos raros no caminho perdido
Esperanças vãs lutam no peito adormecido

Insanidade? Quero saber.
Ilusão de mais faz perder
A realidade magnífica que é viver

Regras não segue
Mas regras a rege.
Perdida entre sonhos
E a vida que se impôs.

Diz que tudo tem seu tempo
E prefere deixar para depois ...

Nos cabelos o vento
No coração o sangue vivo
De alguém que ainda não aprendeu a viver.
De alguém que na vida preferiu morrer.

Tracy Gomes Costa


quinta-feira, 30 de abril de 2009

De Volta






















Ahh quanto tempo corri deste lugar
Quanto tempo aqui não soube me expressar
E hoje em versos sinceros e instantâneos
Volto para a casa devagar...

No bolso esquerdo carrego a despretensão
No direito a esperança de mais uma canção
No coração o que sinto e quero libertar
Em minha mão a chave, o verso:

Vamos você também pode entrar!

Tracy Gomes Costa